“O fazedor de canções”: Lenine revela detalhes de sua trajetória em podcast original da Deezer

Dentre muitas histórias, o cantor e compositor conta carinhosamente como Elba Ramalho foi uma grande janela para vários artistas nordestinos

Distante mas muito próximo: foi assim a produção do podcast Essenciais com Lenine, gravado à distância durante a quarentena, mas não menos intimista – pelo contrário. “Imagina toda essa situação sem essas ferramentas que permitem que a gente possa burlar de certa forma esse isolamento e ficar próximo, apesar de distantes?”, questiona o artista logo no início do bate papo com a jornalista e apresentadora Roberta Martinelli.

Ainda jovem, e por sorte, Lenine decidiu arriscar um novo caminho. Após três anos de faculdade de engenharia química – Pasmem quem não sabia! -, em 1979 trancou o curso e foi pro Rio de Janeiro com a intenção de se transformar em um “fazedor de canções”, como gosta de se definir.

O pernambucano teve logo seu primeiro disco lançado – “Baque Solto”, em 1983, junto com Lula Queiroga. Apesar de especial, a repercussão não foi tão alta. “Chamamos internamente de ‘espinha na bunda’, algo que só você sabe que tem, pois aconteceu, mas não aconteceu”, brinca o artista.

Em 1989, Elba Ramalho gravou “A Roda do Tempo”, uma composição de Lenine, momento que ele define como uma grande oportunidade”. “Elba foi uma grande janela, não só pra mim, mas para vários compositores e cantores nordestinos. Sendo voz dessa cultura, ela deu essa sobrevivência a muitos artistas”.

O próximo lançamento foi quase 10 anos depois, em 1993, o álbum “Olho de Peixe”, com Marcos Suzano e repleto de percussões cheias de harmonia. “Com Suzano foi uma empatia imediata. A gente se encontrou, decidimos tirar um som, ficamos 4h juntos e o disco tinha sido feito ali”. A gravação oficial e edição foi feita em um estúdio que um amigo ofereceu, em horários alternativos: “a gente esperava dar 18h de sexta feira para entrar no estúdio e saia 6h da manhã da segunda feira” – e esse esforço rendeu bons frutos.

“Olho de Peixe foi um álbum que abriu tudo para mim, minha vida dentro e fora do Brasil. Mais do que isso, me fez perceber que eu fazia algo que podia interessar em qualquer parte do planeta, e acabou definindo como eu lido com música, como eu gosto de fazer pontes, como eu gosto de me jogar, e isso tem tudo a ver com esse início”, revela Lenine, complementando que esse foi o projeto que confirmou que ele sobreviveria de música.

“O dia em que faremos contato”, 1997, foi o primeiro disco assinado solo – mesmo Lenine não sendo muito fã desse termo. “Música pra mim tem que ser coletiva, tem que trocar, então eu não digo que é um disco solo. Esse disco só aconteceu pela produção do Chico Neves”, conta.

Dois anos depois, foi lançado o “Na Pressão”, álbum que trouxe ao mundo o hit “Paciência”. “Às vezes me questiono se essa música é minha e do Dudu Falcão. Se eu te falasse a quantidade de versões, declamações, relatos de pessoas que falam da importância que a canção teve em momentos de fragilidade, dificuldade, e que ela foi um gatilho esperançoso, isso é muito especial. Sei que fui eu que fiz, mas agora, nesse momento , parece que não fui eu”

Os próximos anos foram repletos de lançamentos e sucessos: “Falange Canibal”, 2002, buscou homenagear os encontros. “In Cité”, 2004, foi o eco de um trabalho que Lenine fez anos atrás a convite de Caetano Veloso, o qual rendeu esse show gravado em Paris.

“Labiata”, de 2008, é definido como o “primeiro romance” do artista. “Me impus a fazer uma canção por dia. Eu fazia ela de noite, de dia ia no estúdio, gravava e ia pra casa fazer uma segunda. Durante 15 dias fiz 15 músicas, já em formato de capítulos. Quando acabou os 15 dias de criação, eu voltei a primeira música e comecei a produzir. Então digo que esse disco nasceu pela minha perseguição por um romance”, revela.

Em 2011, um marco especial aconteceu: o álbum “Chão” foi produzido por Bruno Giorgi, filho de Lenine. Alguns anos depois, foi lançado “Trânsito”, um show que se tornou um álbum – repleto de canções inéditas. 

Para finalizar, o cantor e compositor conta que durante sua trajetória buscou apostar em um caminho, em uma assinatura, e, pra ele, não bastava apenas fazer uma bela canção. “As pessoas reconhecem uma maneira de tocar que é minha. Na minha equação, desde o início eu queria chegar em um lugar  assim, que me permita dizer ‘É assim que eu faço’. Tudo que eu ganho com a música eu invisto na própria música”, diz Lenine.

Ficou curioso e quer saber mais sobre a trajetória do “fazedor de canções”? Ouça o episódio completo aqui. E, se quiser conferir as 15 faixas tocadas no episódio, confira a playlist Lenine.